quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Francamente né, menina!


Por Paty Souza

Vem, menina! – A mãe dizia em vão, pois ela só sabia olhar o homem que acabara de passar.

- Mãe, por que ele olhou para meu tênis antes de olhar para o meu rosto?
- Como eu posso saber, filha?
- Mas mãe, meu sorriso é muito muito muito mais bonito que meu tênis, e ele olhou para o meu tênis. Meu tênis não sorri.

Paola está vestindo o uniforme da escola primária: branco de listras verdes e finas, meias brancas e compridas, e um tênis preto que parecia maior do que ela necessitava. Um de seus cadarços está solto há horas, era o traço de sua personalidade inquieta e despreocupada se levantando em imagens. Alguns a chamavam estabada, a pequena.

- Mãe eu vou sorrir assim bem grande, fazer meu sorriso me cobrir.
- Está certo Paola.
- Melhor, vou riscar um sorriso no tênis. Assim ele verá um sorriso mesmo se for teimoso.
- Faça como quiser, mas ande depressa e fale baixo, pois todos da fila estão olhando.

Movia-se para a esquerda e para a direita, naquela fila de banco era o único espaço que tinha para se locomover. Olhava para os atendentes, em seus paletós pretos e iguais, não entendia o porque daquela exatidão, tudo igualzinho, pensava. Sua mãe olhava muitas vezes para o relógio, Paola achava aquele relógio muito menos charmoso que o seu, que tinha um despertador com cantos de pássaros. Olhou para a porta giratória e pensou que até seria legal ser barrada naquela porta, pensou que pegaria o celular da sua mãe para fazer aquela porta barrá-la, tinha visto uma moça que não conseguiu entrar por conta do celular na bolsa. Esperava ver aquele policial bigodudo se mover, não o viu sorrir ao mesmo uma vez desde que entrou, na verdade não o viu ao menos mudar de expressão, como pode? No meio dos pensamentos, foi interrompida pela mãe:

- Essa demora, essa falta de respeito com os clientes, e nós pagamos por este serviço.

Com a brandura e uma certa irreverência que enchiam seu peito de alegria, disse:

- Vem cá mãe, eu vou desenhar um sorriso no seu rosto

Para ler outras histórias é só acessar o blog www.duashistorias.blogspot.com

1 comentários:

Unknown disse...

Que texto excelente!

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