quinta-feira, 14 de abril de 2011

Rivotril


Por Paty Souza

Sou...Seria...Serei
A gola da camisa bem passada
O sorriso terno de piedade
Da piada mal contada
O intragável silêncio
Dos assuntos que de nada importam
E o rosto bem comportado
Da submissão
(Ah, mas sua hipocrisia me deixou inconfortável comigo mesmo)
Sou ânsia
No banheiro da empresa
A faixa de parabéns, meu querido chefe
O presente do namorado que trai
E o dinheiro do rapaz cheio de medos

Sou o espaço entre o que fui
E o que sou
Sou a incongruência desajeitada de um padrão regurgitado

Ou seria, sou, fui então
A cocaína da noite passada
O cabelo mal penteado
Da noite de sexo ardente
Com uma mulher
Duas
E um homem
Que gosta talvez de outro homem
Que não gosta de ninguém

Sou a ingratidão ao porteiro
E a escravidão da hierarquia
Sem alforria
O foda-se papai
A negligência da mamãe
Uma hipocondria cotidiana
Da doença que são as pessoas
O ódio encarcerado
De todas as meninas gordas (magras, na verdade)
Nas academias abarrotadas
Sou o espelho, que é a revista de moda
O bar lotado, de gente vazia
Que espera um pouco mais dessa noite

Sou uma dúzia de pensamentos
Esvaziando-se,
Reprimindo-se
Inativos
Enterrados sob o jardim
Colorido
Grande
Cheio de memórias

Palavras não ditas
E sentimentos vivos
Integralmente não sentidos
Lá as crianças brincam
Felizes
Andando sobre mentiras

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